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Muito se tem debatido acerca da Revolução de 1917, da ascensão e queda do socialismo soviético, do triunfo dos mercados e da adesão dos governos comunistas à lógica capitalista. Porém, o problema de fundo da esquerda em todo o mundo continua a ser o mito bolchevique, a ideia de que a verdadeira Revolução é aquela de outubro, com sua práxis autoritária, e tudo que isso implica ao se fazer dela a medida pela qual todas as ações políticas de mudança têm de ser mensuradas. Qual o significado, hoje, de Outubro? Christian Laval e Pierre Dardot procedem a uma revisão crítica desse evento tão mitificado e mal compreendido, evidenciando como o bolchevismo traiu os sovietes da Revolução de Fevereiro: em lugar da auto-organização popular, o culto ao Estado e a seu líder e a luta pelo poder a todo custo e sua manutenção. Laval e Dardot tomam como contraponto a isso a Revolução Mexicana - que seguia outro caminho, influenciada pelo anarquismo - e, como modelo ilustrativo da forma de atuação bolchevique, a Guerra Civil Espanhola e seu conflito interno entre os antifascistas libertários e stalinistas. A partir dessa perspectiva, os autores defendem uma nova política comum que, vinculada a outras experiências revolucionárias, seja capaz de concretizar democraticamente o autogoverno, dissipando de uma vez por todas a Sombra de Outubro.